Realmente hoje nasceu o sol
Um gosto estranho de sonho
Até esqueço de me comparar
Tá pra viver
Um escritório não se ousa abrir
Quem é de nós, dorme
Boys
Trabalhos mais artesanais
Espio lá, se espreme um monte de laranja
E é isso um copo só
A confirmar a crônica de vez
Que fala do brilho da manha
Pintou em frente ao mercado francês
Tá só dando aquele nó no poste
Habilidosa com a coleira do cachorro
Eu do calor não vou falar
Pensei no nome
Nome do cachorro?
É
Ah, para
Só falta ser
Toby, que legal
Pensei a gente e o Toby
Um jornal, quem sabe o seu amor
Revela-se no sol
(Dar uma volta)
Toby, bem legal
A gente e o Toby
Um jornal, quem sabe seu amor
(Fotografia velha) revela-se no sol
Escritório não se ousa abrir
Quem é de nós dorme
Boys
À noite sim, vem o barulho
Agora não
Só sei que o dia é longo
Simpático, inédito
Toby
A gente
Jornal
Revela
[texto de Henrique Castilho]
Certo dia, acordei poeta
Ainda era meu próprio corpo. Mas estava tudo diferente
Como se acordasse advogado compreendendo todas as leis
Ou acordasse pianista sabendo dedilhar o piano
Mas acordei poeta. E podia ver poesia em qualquer superfície que meu olhar tocava
Era capaz de mistificar a coisa mais simples e dar clareza às mais complicadas
De fazer malabares com as palavras e de driblar o raciocínio com um jogo perfeito de ideias
Tinha a capacidade de fazer os amantes chorarem, de fazer um povo ter esperança ou de dar sentido à vida do homem solitário
Mas antes de escrever um poema, resolvi armar uma feijoada e chamar os amigos
Comemos muito, bebemos muito, dançamos e jogamos conversa fora
De noite, namorei até ficar exausto e dormi roncando de barriga para cima
Perdi a chance de ter escrito o livro que mudaria a história das coisas
Porque, no dia seguinte, acordei e estava de volta no meu corpo