Ei, irmão
Cresci em meio ao crime, mas não sou ladrão
Respeito quem é, mas só quem é
Quem não é e diz que é eu considero mané
Ganhou qualé?
Pois quem é não gostaria de ser
Já ouvi isso de ladrão considerado,
De atitude e proceder
Aí Cachorrão, aí Nei
Não esqueci de vocês
Sou apenas mais um da periferia
Quem rima aqui é um humilde caipira
Que se vacina de humildade
Pra não ser contaminado pelo vírus da vaidade
Não mais nem menos inteligente
Pareço você, que também é competente
Seja persistente, juntos vamos vencer
Não deixe que a inveja tome conta de você
Estenda sua mão
Não ria da desgraça do irmão
Agradeça a Deus pela vitória do outro
Não dê mancada pra não amanhecer morto
Não quero simplesmente
Bater foto da minha gente
E apresentar ao sistema,
Me entenda
Eu quero ser a tinta
Pro artista cego que pinta
Realizar seu trabalho
Um novo quadro na vida do proletário,
Do povo trabalhador, do lavrador, do operário
Ser o elo que une a foice e o martelo
O instrumento que liberta o detento
Aquele que mata a sede de regeneração do ladrão
Que junta o povo pra fazer revolução
Ser como a água que nasce nos montes
Lavando o sangue que foi derramado antes
Se transformar em rio e ser as veias da Terra
Ser a bandeira branca em meio a essa guerra
O breque no tambor,
E girando o gerador
O senhor é meu pastor e nada me faltará
Sou apenas um caipira aprendendo a rimar
(Quando me lembro
Dos meninos do sertão
Olho pro céu
E vejo eu entre os pardais
Catando estrelas,
Desenhando a solidão
Ouvindo histórias
De fuzis e generais)
Como já disse, eu sou igual a você
Eu faço Rap, mas não pra me crescer
Não sou estrela de TV
Não sou superstar fabricado pela Globo
Sou um guerreiro na batalha pelo povo
Mais um nesse jogo
Posso até parecer bobo,
Mas não
Periferia, favela
Quem mora lá sabe o que acontece nela
Não precisa ouvir no Rap
Muito menos ver na tela
Minha intenção, sangue bom,
Não é dizer aquilo que você já sabe
O que eu quero, ladrão, é provocar o debate
Elevar a discussão,
A troca de informação entre os irmãos
Porque o ensino não é verticalizado
Não podemos seguir tudo que está estipulado
Pra não ser manipulado é necessário
Estabelecer as nossas próprias metas
Só dessa forma sairemos da merda
Tem um ditado que dizia
Que cabeça vazia é oficina do diabo, tá ligado?
Muitas vezes quando venho do show
Dou uma parada lá no café do posto
E muitas vezes me bate o desgosto
Ao ver uma tiazinha
Na madrugada fria juntando latinha
Minha vontade é de chorar
Com a viola que meu tio tocava
Que ponteava e cantava aquelas modas
Que sempre tinha história
Isso eu trago na memória
Desde o meu tempo de criança
Quando os meus olhos derramavam esperança
Hoje eu cresci, mas mesmo assim não desisto de lutar
Sou apenas um caipira aprendendo a rimar
(Quando me lembro
Dos meninos do sertão
Olho pro céu
E vejo eu entre os pardais
Catando estrelas,
Desenhando a solidão
Ouvindo histórias
De fuzis e generais)
Eu agradeço a você por ouvir nosso som
Seja em fita ou CD, até mesmo em vinil,
O importante é que ouviu
E tentou entender
Essa humilde mensagem que eu transmito a você
No barraco, na cela, no trabalho, no rádio do carro
Seja onde for, no litoral, no interior, nas capitais
Cada dia que passa nosso som cresce mais
Contagia o idoso, enlouquece os moleque
Agora é fita dominada, pro Rap não tem breque
Agradeço a Deus pelo dom de escrever
Encontrei pra minha vida outra razão pra viver
Eu já tinha três motivos:
O Jonathan, o Bruno, a Joice, meus filhos
Todos três com a minha mina, Carmelita
Que maravilha,
É poder gritar pra todos que você tem família
Quase pra tudo nesse mundo
Sigo exemplo do meu pai que vem da roça sem estudo
Mas conseguiu criar seus filhos sem cair no submundo
Sem vício
Pobre de dinheiro, mas rico em espírito
Talvez seja tudo isso
Que me livrou do crime,
Me afastou da PT, pode crer
Já sofri com desemprego,
Já entrei em desespero
Mas já presenciei o enterro de muito truta meu
Se eu tivesse ido pro crime talvez um desses fosse o meu
Mas não, graças a Deus, eu tive sorte
Hoje eu sou Aliado G do grupo Face Da Morte
Considerado no Brasil do sul ao norte
Pela ideologia forte que me move
Sempre na base da velha humildade
Conquistei muita amizade
Durante a minha trajetória
Já aprendi com a derrota
E já vibrei com a vitória
Por tudo isso, não desisto de lutar
Sou apenas um caipira aprendendo a rimar
(Quando me lembro
Dos meninos do sertão
Olho pro céu
E vejo eu entre os pardais
Catando estrelas,
Desenhando a solidão
Ouvindo histórias
De fuzis e generais)
By: Gabriel Bandido MAL