Um beijo
Quero definir um beijo...
Mas não um beijo qualquer
Preciso dizer o que vejo
Nos lábios duma mulher
Um beijo no canto da boca,
Quando o olhar se troca, audaz
Será que marca a louca
Esfera que deixa p`ra traz
Ou num beijo sedutor
Errante no gesto que não se fez
Mas que deixa no ar o amor
Duma paz que acaba de vez
Quero escrever o beijo-carícia
Presa na ponta dos dedos
Que defina a malícia
Que transporta nesses segredos
Definir num gesto delicado
O roçar da pele oculta
Que num brilho incendiado
Torne a chama mais adulta
Sentir apertar contra a testa,
Uns lábios sedutores
É limar qualquer aresta
Confundível com rancores
E um beijo dado ao luar
Imagino o seu efeito
Dependendo do lugar
E do que se sente no peito
Como definiria um beijo-Mel,
Á chuva no arco-íris?
Direi lavrado na pele
Se a vida e tu permitires
Um beijo dado á luz do dia
Que de calor nos faz transpirar
È um beijo de alegria
Digo ser, beijo intenso como o mar
Então se for dado de pé
É água que nos mata a secura
É força que diz de quem é
Não se esconde essa ternura
Como se escreve beijo de encontro
De duas almas em livre anelo
Eu digo ser beijo tonto
Como um beijo assim deve sê-lo
Há os que são coloridos
Lembram flores dadas em mão
Deixam êxtase se vividos
No fogo duma paixão
Tratando-se dum beijo terno
Escondido ou não, mas real
Que só pare no inferno
Quem o entenda como um mal
Num beijo posso pôr tudo
Sentir, paixão, ou ternura
Que um beijo mesmo que mudo
É beijo que perdura
Penetra fundo na alma
Vibrando nas entranhas
Um beijo sempre acalma
A mais voraz das manhas
Falta-me um beijo de amor-puro
Dado entre os lençóis
Beijo que eu, nem dou nem juro
Se não formos os dois.
João Morgado