Do tempo que eu fui pião tenho muito o que contá
Eu já fiz muita aventura, não falo por me gabá
Eu fui buscá uma boiada no chão de minas gerá
É uma viagem perigosa que agora lhe vou contá.
Mil e quinhentas cabeça retiremo da invernada
No meio de um carrasqueiro um boi caiu de arribada
Firmei na iápa do laço, gritei com a besta "adorada"
Com prazo de dois minutos juntei o boi na boiada.
Viajemo quinze dias cortando aquele sertão
Na vila de guaranézia fui fazer a embarcação
Minha boiada estorô na chegada da estação
Nesta hora perigosa quis mostrar que era pião.
Joguei a besta por cima e o laço na mão levei
No meio de um poeirão, muitos ainda lacei
O que não pegava a laço, à mão e à unha peguei
Arrisquei a minha vida mas a boiada eu sarvei.
Eu repiquei meu berrante prá avisar a peãozada
Que a boiada que estorou já tava toda ajuntada
Com prazo de poucas horas dei a boiada embarcada
O trem apitou e partiu, despedi da mineirada.
Vou contar a mais difícil, a aventura derradeira
Na anca da minha besta carreguei uma mineira
Hoje no meu véio rancho ela é minha companheira
É a lembrança que ficou, do tempo de boiadeiro.