As águas velozes vão vociferando
Cortando os sertões com força indomada
De longe se vê uma cobra encantada
Derrubando a mata e a gleba inundando
Remansos bravios descem se formando
Por entre as espumas, fazem rodopio
Águas excitadas são fêmeas no cio
Que beijam a terra e seduzem a gente
De cima da ponte cantei meu repente
Nos dez de galope da beira do rio
À noite um murmúrio vem das cachoeiras
Os sapos cantando uma canção dolente
Desce um pescador ligeiro e valente
Vai se arriscando nas águas matreiras
Os peixes graúdos descendo em fileiras
Um pássaro entoa um canto sombrio
Um velho do mato se esconde do frio
Em cima da pedra acende a fogueira
Lembra da mãe-d'água e sai na carreira
Com medo dos entes da beira do rio
Eu ouço o barulho já de madrugada
De cima pra baixo, nascente e foz
A serpente d'água correndo veloz
Deixando a cidade feliz e animada
O povo saindo, invadindo a calçada
Já comemorando o fim do estio
O vento na ponte soprando tão frio
Meninos brincando, pessoas contentes
Encontro das águas e seus afluentes
Nos dez de galope da beira do rio