era chegado o tempo dos discursos inúteis
quando o inverno se perfila no horizonte a drapejar bandeiras descontentes
as famílias recolhem à lareira a contar as mortes que sobem na chaminé
em golfadas ardentes
afogueadas pelas chamas
crianças com pés de lã
enroscadas no sono
sonham monstros a invadir-lhes o terreiro de brincadeiras
quase fogem
não fora a estranha incapacidade de se moverem
paralisadas
pelo medo
gritam então e abrem os olhos num estremecimento repentino
assustadas!
o espírito inquieto que lhes assombra a fronte
procurando reconhecimento nos rostos macerados
que as olham distantes na névoa avermelhada
era chegado o tempo das histórias antigas
num ressoar de mistérios e castigos
almas penadas escondem-se no calor das árvores
a soprar murmúrios pelo silêncio da noite
e quando os vampiros espantam os garranos em relinchos estridentes
os cocheiros perscrutam o céu…
paralisadas…
pelo medo