Sem Endereço
(Arlindo Cruz e Luiz Carlos da Vila)
E lá vai ela,
Dizendo até nunca mais
Estou naquela vivendo à sombra dos ais
Pra vê-la feliz, eu até me virei pelo avesso,
Sabendo que do seu amor me fortaleço
É a paga que ela me dá por tanto apreço,
Vai embora e não deixa sequer seu endereço
Na escola de samba do seu coração foi um tropeço
Cortou o meu samba alegando que não tinha fim e nem começo
Rasgou a minha fantasia e atirou no chão meu adereço
Motivo pra tanta discórdia, eu desconheço
É a paga que ela me dá por tanto apreço
Vai embora e não deixa sequer seu endereço
Fui ao fundo do poço, na base do ouço e obedeço
E ainda dizia inocente e contente é isso que eu mereço
Por ela, na mão, encarei camburão por um triz quase faleço
Por fim ainda quer me vender a um baixo preço
É a paga que ela me dá por tanto apreço,
Vai embora e não deixa sequer seu endereço
Eu gastei toda economia pra enfeitar a casa
A nega vadia ainda me arrasa, “formiga com asa” que quer se perder
Eu gastei toda grana que eu tinha para vê-la “joinha”
Deixando a vizinha com água na boca
Mas é que essa louca não quer me querer
Eu gastei toda minha energia
porque todo dia acordava mais cedo
Para dar-lhe levedo e o mais puro leite pra fortificar
Eu gastei toda a poesia que eu fazia à toa
De Carlos Drumond e Fernando Pessoa
Mas ela resolve me abandonar.
Gravação Original: Zeca Pagodinho