Dona Deija
Quando eu olhava pro Sol
A hora nossa, o relógio nosso era o Sol
O Sol tá tal altura é 9 hora da manhã
O Sol tá tal altura é 10
O Sol tá no meio do céu é meio dia
E assim nós passava o dia
Terra de barro vermelho
Terra de vento cantante
Terra de povo bonito
De cachoeira calmante
Terra de jaca e mangueira
Terra de povo dançante
Chapéu de couro e lobeira
A mata sempre brilhante
Terra de anjo e arcanjo
Campo do meio e sertão
Terra de Zita e Seu Loro
De Seu Colonho e Ceição
Terra de Dura e Noabio
De Imbigada e Baiano
Terra de Alzira e Irany
Só patrimônio goiano
Ar condicionado é adobe
A Kingsize é a rede
O chão é de piso queimado
Butija mata a sede
Fogão aqui é de lenha
Despertador Maritaca
Ovo vem do galinheiro
Riqueza que num acaba
Cuida com cobra menino
Nuanda descalço no mato
Ouço essa voz na cabeća
Lembrança do véi Donato
Eita povo quilombola
Dum sentimento profundo
Sim fiquei um tempo fora
Mas o Moinho é meu mundo
Povo encantado
Moinho vou lhe cantar
Força das águas
Moinho, roda, gira
Povo encantado
Moinho vou lhe cantar
Força das águas
Moinho, roda, gira
Eu faço moda de viola
Que viola a moda
Quilombola estrapola a escala
Pois sua fala é escola
Pra fora eu sou caipira
Sou curupira e caipora
Na Chapada quem cai, pira
Catira pisa na escória
Rasgo a estrada com a sola
Se joga e caça a rainha
Já tenho uma coroa linda
Deija é minha mainha
Venceu o açoite na briga
Verdade ninguém tira
Se for mentira Tio Wil
Dá boa noite e se retira
Wakanda é nossa vila
Mais antiga que a gringa
Se a gueroba amarga a vida
O talento é o que poe sabor
Maior invento é a roda
E gira, a roda é uma giría
Sou rapadura docinha
Do engenho de Dona Flor
Antes de ser da terra
Já era um bicho, Marinho
Me disseram tu não sobe a serra
Eu virei passarinho
Gaiola é pra quem chora sozinho
A esmola é o dólar vizinho
Minha história foi feita
Fora do ninho
Não se achem estrelas
vocês nunca foram em morrinhos
Não poderão te-lâs
Sem a escuridão no caminho
Quem deu luz foi a parteira
Partiram com senhorzinho
Abra as porteiras campeiras
Que o mundo é nosso moinho
Povo encantado
Moinho vou lhe cantar
Força das águas
Moinho, roda, gira
Tece o tapete todinho
Tira tarefa Tião
Tempo de tudo tranquilo
Temos tanta tradição
Doce aqui é tijolo
É bão demais armaria
Café aqui é fartura
Lembrei de Dona Leonia
Aos que fizeram a passagem
Eternizo no poema
Saudade dá vó querida
Pitta, seu Delo e Jurema
Salve os amigo de infância
De Marcelo a Abadiney
Luca, Débra e Dione
Esther, Rafinha e o mano Ley
Banha debaixo da ponte
Suja de cima do morro
Brinca na beira do rio
Afoga, pede socorro
Não tá sabendo nadar
Oiá o tamanho dessa praga
Parece que num é daqui
Nunca engoliu uma piaba
Os causo de lobisomem
Na família é normal
Tem tio meu que jura
Ter visto saci no bambuzal
Eita povo quilombola
Dum sentimento profundo
Sim fiquei um tempo fora
Mas o Moinho é meu mundo
Povo encantado
Moinho vou lhe cantar
Força das águas
Moinho, roda, gira
Dona Deija
Então era um ritual
Senhora Santana sua casa cheira
Cheira cravo e rosa
A flor da laranjeira