Sou um pedaço do tempo
Medido no vento de Norte a Sul
Tenho a chave do império
Que guarda os mistérios
Entre o chão e o azul
Sou preto, sou branco, amarelo
Sou verde do jeito que os teus olhos são
Me ponho aos teus pés de bom grado
Meu manto sagrado entrego nas mãos
Minha voz faz o trinado, é o canto do sabiá
É o recado de bem longe
Pra teu ouvido escutar
Minha mão é água clara que caminha para o mar
A certeza do abraço pra isso tudo fecundar
Os teus passos deixam marcas
Feridas profundas acesas no chão
É um deserto de esperanças
É tudo que sobra na palma da mão
Minhas veias sangram vidas
O meu choro ninguém ver
Agonizo no silêncio, ante o ouro do poder
Reluzente, majestosa, a cidade temporou
Os meus frutos saborosos
Em amargo transformou
Sou natureza, sou mãe
Que o filho não cuida e deixa morrer
Guardo respostas precisas
Que um dia o tempo ainda vai responder
Sou natureza, sou mãe
De um bicho que pensa e pensa que é rei
Mas que esquece que vivi
Com o dom e a graça que um dia lhe dei