Irmão, a quebrada tá louca.
Por apenas um real nego atira na sua boca
E você ainda acha que o mundo tá facim
Cada dia em um lugar nasce um nego ruim
Pra você ou pra mim, pra todos da periferia.
A violência e o preconceito sujam o nosso dia a dia
Aqui ou ali, onde for vai saber.
Presta atenção malucao pra não morrer
Sua mãe engravidou você nascer não e certeza.
Você nasceu, tá firmao, mas viver e dureza.
No meio da pobreza encontra dificuldade
Mais um pretinho pobre terror pra sociedade
O fim da história e triste, tenebrosa e fria.
Nego chega fuzilando sem pagar simpatia
A alegria da favela e ver todos em paz
Mas noia não sossega até encontrar satanás
Poe na mesa cheira tudo, manda até a do maluco.
E melhor sair batido, foge pra Acapulco.
Porra não tenho em dólar e não falo inglês
Minha língua enrola tipo japonês
Sou freguês lá do morro gasto meu dinheiro
E o chefão carrancudo não me quer de olheiro
Em janeiro viajei fui ver mickei mouse
Acordei no hospital bem, mal de overdose.
Na viagem via cenas tipo dysneilandia
A real foi mil grau tava na cracolandia
Na sociedade kamikaze do Brasil
Você espera paz, mas leva tiro de fuzil.
Miséria e fome nos pais e o povo sem ajuda
O Brasil e o Jesus e o governo o Judas
Tente transformar a água em vinho
Vem uns invejoso nego e cruza seu caminho
Tipo uns piolho faz assim sem neurose
Cata um e parte em dois e sofre na overdose
Palavras, poemas nem quero saber.
Cadê o tira-teima pro meu povo ver
Só lalau embolsando da previdência
E as escolas sem lousa na maior decadência
E na seqüência no back o menor viaja
Rouba a própria mãe e ainda esculacha
E você ainda acha certo ser assim
Sonho com dias melhores, mas vêm dias ruins.
Pra você ou pra mim sei lá qual e a seqüência
Senador, prefeito, deputado vem de providencia.
Um dia eu correrei num campo verde com flores
Vendo o povo humilde sem sofrer dissabores
Nem horrores de guerra nem mesmo desigualdade
Ver o negro e o pobre integrar a sociedade
Sem maldade na mente, sem ser hobin wood.
Crianças brincando no chão de bolinha de gude
Mano não se ilude, aqui e diadema.
Pra onde você olha nego encontra problema
A cada esquina a maldade espreita o cidadão
Pai de família vai passando toma enquadro de oitão
tá pensando que e flores nego, vai ver que e espinho.
A maldade na cidade espreita seu caminho
Por escadas desiguais de degraus estilhaçados
Tente subir seu conceito sem deixar ser humilhado
A elite que explora a amo de obra da senzala
Quando vê uma favela fecha o vidro e torce a cara
Eles se sentem imunes, acham que nada tem a ver.
Mas será que sem o pobre o rico consegue viver
Lógico que não, pois quem vai se humilhar.
Se dondoca da elite nem ovo sabe fritar
A pobre fode suas mãos com produto de limpeza
Enquanto as ricas se embonecam nos salões de beleza
Limpando e polindo muitos talheres de prata
E pensando em seu marido coitado catando lata
E ao limpar a garagem vê três carros importados
Cansada volta pra casa num buso velho e lotado
E chega o final do mês, a maior humilhação.
O que ganha mal da pras compras, imagine para o pão!
E uma épouca de chuva sua casa tem goteira
tá molhando as paredes apodrecendo as madeiras
Coitada dessa família, todo ano e esse drama.
Hoje eles não vão dormir, a enchente molhou as camas.
Nem mesmo o alimento teve como aproveitar
E os ricos nada fazem pra essa cena mudar
até a mesada do seu filho e maior que o seu salário
Esses ricos sempre tiram o povo pobre de otário
E o playboyzinho que não sofreu, não sabe o que e
nanicao.
Me tromba no role e me chama de irmão
Irmão o caraio playboy, vai se fuder.
Presta atenção não sou igual a você
Eu não ostento riqueza e nem faço faculdade
Minha educação foi com muita dificuldade
Na verdade sou guerreiro sou poeta do gueto
E você playboy maldito tem até nojo de preto
Pra você nos somos lixo, escorias pra sociedade.
Caso de estudo de muitas universidades
Pra cada branco da elite uma dose de hipocrisia
Fala mal dos pretos, mas o usam no dia a dia.
E se e pra ser igual vocês, terno fino, gravata
preta.
Um ladrão de colarinho com a previdência na maleta
Eu prefiro ser o preto humilde da periferia
Que anda junto com o povo e não se humilha a cada dia