Cabelos brancos, pele enrugada
Passadas triplas, pés e bengala
Eu sou mais um velho a beira da morte
Eu sou só um cara com falta de sorte
Eu só queria mais alguns anos
Conquistar coisas, amores, amigos
Só tenho um gato envelhecido
Caolho, manco, feio e desnutrido
Na noite morta de lua cheia
Céu estrelado por vaga-lumes
Para meu espanto o gato falou-me que
Podia me dar quem sabe uma segunda chance
Meu gato velho cheio de grude
Me fala sobre a semente da saúde
Que me dará uma nova vida
Um recomeço uma segunda chance.
Em tudo na vida se esconde a morte
Em toda semente se esconde a sorte
Em todo trabalho se esconde a dor
Em todo homem um sonhador
Será plantada ao meio-dia
E à meia noite um pingo de sangue
Mas cuidado a paciência é o estrume
Tenha muita calma a paciência é sua virtude
Um mês, um ano sem sinal de verde
O tempo passa e a velhice aumenta
O sangue pinga e eu já sem paciência
Vou cortar os pulsos para matar essa sede
Sentindo o corpo um pouco frio e leve
O sangue desce enquanto a planta cresce
As forças se acabam e o gato aparece
Só para ver em minhas últimas preces.
Não mais jorra sangue dos meu cortes,
Em vez da vida eu colhi a morte
Minha segunda chance foi perdida
E gato esperto tem sua oitava vida
Em tudo na vida se esconde a morte
Em toda semente se esconde a sorte
Em todo trabalho se esconde a dor
Em todo homem um sonhador