Naquela noite, eu vi uma bosta
No meio-fio de uma calçada
Era pastosa, esverdeada
E exalava um cheiro forte
Será de gato? De cachorro? Ou de cavalo?
Olhei nos olhos daquela gosma
Cheia de vermes e de baratas
Fiquei bem perto, senti um nojo
E, de repente, rolou uma lágrima
Será de tédio? De histeria? Ou neurose?
E fui descendo de boca aberta
Praquele monte cheio de merda
Passei a língua como quem pede
Perdão aos deuses e paz na Terra
Será o meu verso? Será o meu verso?
Será o meu verso?
Já amanheci nessa cidade
Maravilhosa, estonteante
Voltei pra casa com a capa negra
Que nos meus ombros parece um sonho
Por isso eu canto! Por isso eu canto!
Por isso eu canto!