Eu nasci no interiô do grande estado mineiro
Fui um herói sem medáia na profissão de carrêro
Puxando tora do mato com doze bois pantaneiro
Eu ajudei desbravá nosso sertão brasilêro
Sem vaidade eu confesso
Do nosso imenso progresso eu fui um dos pionêro
Veja bem como o destino muda a vida de um home
Uma doença marvada minha boiada consome
Só ficou um boi mestiço que chamava Lobisome
Por ser preto iguár carvão foi que eu lhe pus esse nome
Mas pouco tempo depois
Eu vendi aquele boi pros fio não passá fome
Aborrecido com a sorte dali resorvi mudá
E pruma cidade grande com a famia fui morá
Por eu ser anarfabeto tive que me sujeitá
Trabaiá no matado pro meu pão podê ganhá
Como eu era um home forte
Nuqueava o gado de corte pros companheiro sangrá
Veja bem a nossa vida como muda de repente
Eu que às vez inté chorava quando um boi ficava doente
Ali eu era obrigado matá rês inocente
Mas certo dia o destino me transformou novamente
Um boi da cor de carvão
Pra morrê na minha mão tava ali na minha frente
Quando eu vi meu boi Carrero não contive a emoção
Meus zóio se enchero d'água e o pranto caiu no chão
O boi me reconheceu e lambeu a minha mão
Sem podê sarvar a vida do meu boi de estimação
Pedi as conta e fui embora
Desisti na mesma hora dessa ingrata profissão
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)