Naquela tapera véia que o tempo já distroçô
Morou Zé Dunga, um pretinho, valente trabalhadô
Foi o maior violeiro que Deus no mundo botô
Sua viola parecia um passarinho cantadô
Trabaiava o dia inteiro feliz sem se lastimá
Mas quando a lua formosa no céu pegava a briá
Toda gente arrudiava pra vê o preto cantá
Sua viola de pinho fazia as pedra chorá
Acontece que a Carolina, cabocla esprito de cão
Bonita como a sereia, mas que muié tentação
Pra judiá do pretinho fingiu lhe ter afeição
Querendo que nem criança brincá com seu coração
Coração de violeiro não é como outro qualqué
É frágil que nem as pétlas de um mimoso mal-me-qué
Que cai com o vento das asas do beija-flor do Tié
Perde a vida quando a abeia vem pra lhe roubá o mé
Por isso o pobre Zé Dunga magoado pela traição
Não podendo mais guentá no peito a grande paixão
Agarrado na viola e debruçado no chão
Foi encontrado com um punhá cravado no coração
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)