Se seu pudesse esquecê
Aquela noite de São João
Era bem bão, mais quá
Não vê? Era a moça mais bunita
Com seu vestido de chita
Tudo enfeitado de fita
Que pisô na povoação
Num vorteado, num sapateado
Foi que nóis se conhecêmo
Nossos zóio se encontraro
Nossos zóio se gostaro
E nóis tamém se gostemo
No gemê da viola
Essa dô que nos consola
Eu fiz a declaração
E como quem pede ismola
Os meus zóio mendigava
Um oiá dos zóio seu
E quando a ismola chego
Chê, meu Deus!
Eu não sei o que senti
Não sei memo, pra que menti?
Eu não sei como foi aquilo
Senti um nó nos gragomilo
Uma vontade de chorá
Mas quá, tudo cansa
Os meus zóio se orvaiô
E uma lágrima rolô
Pro morde eu tê esperança
Um ano mais se passô
Quando foi noutro São João
Era a noiva mais bunita
Com seu vestido de chita
Tudo enfeitado de fita
Nessa noite no sertão
Quando saímo da igreja
Tudo mundo tinha inveja
Da nossa felicidade
Eu tava tão sastifeito
Mais tão sastifeito
Parecia que o meu peito
Queria se arrebentá
Eu inté nem sei explicá
Quem diz, os meus zóio se orvaiô
E outra lágrima rolô
Pro morde eu sê tão feliz
Mas quando noutro São João
Quatro vela ainda acesa lá na mesa
Alumiava o seu caixão
Inda tava mais bunita
Com seu vestido de chita
Tudo enfeitado de fita
E um ramo de flô na mão
Quando pra ela parti
Eu num queria que ela fosse ansim
Se se adespedi de mim
Garrei na cabeça dela
E como um lôco beijei
Beijei sua face amarela
Na hora que ela partiu
Eu já nem sabia chorá
O resto das minha lágrima
Eu dei pra ela levá
Agora, às veiz de tardinha
Eu garro de cismá, de cismá
E de repente sem querê, não sei pruquê
Me dá vontade de chorá
Mas quá, quem há de
O meu pranto se secô
Na dô dessa sôdade
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)