Quando se alembro da porteira
Da fazenda das Parmeira
Lá pras bandas do Pinhá
Me vem logo na lembrança
O meu tempo de criança
Que a porteira viu passá
Sentado no seu mourão
Com o queixo em riba da mão
Eu garrava a imaginá
Passava o córgo cantando
E eu vendo o povo passando
Deixava o tempo passá
Os viajante, os cavaleiro
Sempre me dava dinheiro
Mode a porteira eu abri
E ansim dessa maneira
Cismando e abrindo a porteira
O bão tempo que vivi
Quando os dinheiro caía
Era memo de alegria
Que o seu rangê gargaiá
Ah! dava gosto aquela vida
De abri porteira
E em seguida catá nique, ara se dava!
Mas um dia, que tristeza
Foi chorando, com certeza
Que a porteira escancarô
Em vez de moeda tini
Só vi lágrima caí
Num enterro que passô
Despois largaro a porteira
De um mata-burro, porteira
Do seu lado foi ficá
Mas ela memo de banda
Veve como o tempo manda
Oiando tudo passá
De vorta no seu mourão
Com o queixo em riba da mão
Inda garro a imaginá
Passo o corguinho chorando
Passa o tempo, passa os ano
Só meu pranto qué ficá
Ninguém abre ela
Só o vento arguma vez num lamento
Vai mexê com as suas grade
Mas quando a porteira treme
Eu não sei se ela é que geme
Ou se geme essa sôdade
Vancê se alembra, porteira!
Daquela vez derradêra
Que eu te abri tão comovido?
Um triste enterro passava
E os rangido que ocê dava
Era um ai, foi um gemido
Ah! porteira abandonada
Como ocê fiquei sem nada
Sozinho com a minha dô
Chorando no meu desterro
Porteira, naquele enterro
Foi minha mãe que passô
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)