Voando solto pelos ares
Eu vejo um aeroplano
Enquanto vou chutando pedras
Entre os mistérios profanos
Abrem cancelas, fecham portas
Batem janelas, batem pilões
Vastas cercas se estendem
Nos descampados dos vilões
Qual fileira de romeiros
Numa direção sem guia
Rumo ao santo padroeiro
Pregando suas profecias
Isto cá na minha plaga
Nesse pó vermelho em chama
Sob o sol que queima as abas
Do chapéu feito de rama
Pés cansados, calos vivos
"Alparcata" em coro cru
Sopram os ventos do norte
Se equilibram os urubus
Oh sertão, triste sertão
Como eu, teu sertanejo faz
Espero as trovoadas
Que a primavera trás
Imagino as maravilhas
Das cidades ilusórias
Pra onde tantos homens vão
Tentar ilustrar vanglórias
E eu cá só sei das lendas
Que contam os viajantes
Destas estradas cumpridas
Que seguem mundo adiante
Tanto estalam folhas secas
Chiam cigarras no ar
Tanto cantam pombas brancas
Canto triste de escutar
Tantas são as borboletas
Que circulam do meu lado
Mas um dia vou ser grande
Sentar praça e ser soldado
Peço aos céus que algum dia
Eu consiga ser doutor
Não quero ser "ruaceiro" (não, não, não mãe)
Prefiro ser cantador
Oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh