Quando cheguei nessa terra
Com uma mão na frente a outra atrás
O corpo comprava briga
A alma clamava paz
Meu companheiro de pensão vivia falando
Oxente bichinho cabra da peste
E eu retrucava Uai Uai
Um chamava pela mãe
O outro gritava pai
Uai Bichinho Cabra da Peste Uai
De manhã corria cada um prum canto
procurando uma colocação
Um comprava o Diário Popular
O outro lia o Estadão
À noite notícias de casa
novidades, saudades e beijos
A carta dele cheirava jabá
e a minha cheirava queijo
Uai Bichinho Cabra da Peste Uai
Domingo de manhã o sol bem quente
a gente ia tirar fotografia lá no Ibirapuera,
sabe como é?
Eu de camisa bordada no bolso
sapato sem meia
bem playboy
Meu parceiro de roupa de brim
alpercata no pé
Quando dava três horas da tarde
o tempo virava
pintava um bitelo dum frio
A gente tremia que nem vara de marmelo
e o pessoal dava risada de nós
Uma temporada meu parceiro foi passear na terra dele
Voltou aperreado porque os meninos de lá
tavam falando gírias de Copacabana
Eu disse pra ele,
Fique frio, parceiro. Não se avexe não.
Isso aí é reflexo da televisão em rede, uai.
Afinal de contas
pra quê curtir o nosso sotaque
o nosso folclore
Se logo logo a gente vai ter uma linguagem só
Padronizada
É um tal de oxente my love
Bah, my friend
É muito you pro meu uai, sô!
Já faz muito tempo que eu tô nesta terra
Muita coisa já ficou pra trás
Meu corpo cansado já não compra briga
Mas a alma ainda pede paz
Meu companheiro de pensão até hoje fala
Oxente bichinho cabra da peste
E eu continuo falando
Uai uai
Com as cacetadas destes anos todos
eu fiquei mais velho que meu velho pai
Uai Bichinho Cabra da Peste Uai