Passarim, meu passarinho,
desapareceu no mato
e o mato, meu matinho,
desapareceu no fogo,
mas o fogo morreu cedo,
deixou cinzas no meu peito.
Meu tatu,meu tatuzinho,
se escondeu, buraco fundo
homem cavou meio mundo,
mas a fome nunca passa,
quem tá vivo vira caça
e deixa um gosto de saudade!
Claras manhãs de setembro
chuvarada de caju,
floração de aroeiras,
doce mel do capuchu,
onde está a jandaíra
meu pé de mandacaru?
Meu índio, meu indiozinho,
sou caboclo amansado;
minha avó pegada a dente
de cachorro bem treinado,
onde foram meus parentes?
Meu paraíso encantado?
Deixa eu cantar as mágoas
sobre as águas poluídas;
deixa eu chorar as feridas
de minha terra, minha gente,
deixa eu plantar no presente
uma canção dolorida!
Um instante de silêncio
e esta canção pela vida!