Eu ouço o som barroco no meu barraco
No andar de cima alguém está rouco com o seu Cavaco
A Padaria da esquina, sem aspirina
Na mesma esquina alguém buzina: Carnificina!
A luz do poste está quebrada, não é a lua
Não vejo a cara na calçada, não vou à rua
Tem uma alma que vigia e está nua
Segurando o canivete, a fechadura!
Tá na TV, o que vi acontecer
Tá na TV, o que já ouvi dizer
Não é normal todo mundo se dar mal
Tá no Jornal tem que ser cara-de-pau!
Eu ouço um rato lamentar lá na cozinha
E no dueto está Maria, ta sem farinha!
Eu não consigo imaginar como seria
Matar a fome desse rato e de Maria!
Não há luzes na cidade ao amanhecer
Mas há Brio na vontade de poder viver
Se é preto, pobre, branco, bicha, ou só não ser
Na rua em que se esconde sempre tem quem não te vê
Até as balas, às vezes, são perdidas
Nos seus encontros, talvez o desencontro
O meu barraco às vezes é achado
Por essas balas que às vezes são perdidas
Aqui tem Rei, e quem não tem Rei?
Aqui tem Lei, e quem não tem Lei?
Eu não vou ler, e sei porquê não sei
Não vou dizer, o meu caminho está com o Frei...