Eu peguei carona no meu pensamento
E voltei ao tempo que eu era criança
E me vi montado num cavalo de pau
Em nosso quintal galopando a esperança
E minha mãezinha barreando o fogão
Com os pés no chão e perseverança
E a irmã caçula com a boneca de milho
Como se fosse um filho brincando de trança
Eu vi o papai com machado e facão
Fazendo um pilão no alvorecer
Um caro de boi e os cocões gemendo
E talvez querendo algo me dizer
E mil borboletas de variadas cores
E os beija-flores na copa do ipê
Eu vi num balaio galinha botando
E outras chocando, vi pintinho nascer
Eu vi a magia da graça divina
Abrindo a cortina do véu serração
Vi o astro rei nascer no horizonte
Entre serras e montes e luar do sertão
Eu vi as colmeias com favos de mel
E o papai Noel na minha ilusão
Eu vi o engenho, moinho e paiol
E o pôr do Sol lá no espigão
Vi o ribeirão e o cachorro amigo
Brincando comigo firmando amizade
Eu vi meu carrinho feito de madeira
Minha mamadeira de um ano de idade
Vi o primeiro amor quando meu coração
Conheceu paixão em plena mocidade
Eu vi um monjolo batendo perfeito
Deixando em meu peito eterna saudade