Um rafeiro
Um podengo, um labrador
As alças da mochila nos ombros
Trago o que ouvi no suor
No calor
Uma câmara compacta digital
Vasco da Gama em desfoque
Um primeiro copo
Na tasca, karaoke
Um toking, um toque
O omnívoro põe a mesa e os talheres a jeito
Uma vaca dá um peido
Um avião descola e o CO2 segue só e estreito
Eu
Com 12 anos mal feitos
O rapaz de sorriso Colgate e cabelo televisivo
Ele decretou
Tu não vais ser modelo
Isto é um aviso
Deixo o prato de jantar a meio
Sinto-me uma pessoa normal
Mas não há casting nem agência em que passe
A mentira
Todos diferentes, todos iguais
Não me emagrece quanto baste
Dizes-me ao ouvido
Que sou bonito
Sou mais bonito do que uma mulher
E eu caio sempre na vertigem de ser sempre outra coisa qualquer
Légua a légua
Que passe eu como uma régua
Não consigo medir o que ando a sentir
Como é que queres que eu me vá apresentar
Magra, gorda?
Com banha a rebentar
Eu lanço chicotes por qualquer acepipe
Quem manda no fantoche do meu apetite
Da terra vem fome e seiva sem maneiras
Da terra não nunca crescem novas bandeiras
Desculpa
Eu não sei semear as tuas fronteiras