Um desejo, uma quimera
Uma surpresa, um recanto
Os teus olhos, quem mos dera
Mais um brinde, mais um espanto
Se soubesses quem eu era
Não tinhas dormido tanto
Guardo o som da alvorada
E vou dormir na esperança
Que não me digas mais nada
Mas tu deixas a vingança
Presa à luz da madrugada
Onde a tua alma balança
Quando o sono está perdido
Resta-me ainda a vaidade
De te ver ali estendido
A sonhar que era verdade
O meu sono adormecido
Na insónia da saudade
Mas se a manhã se levanta
E eu não sei pra onde vais
Sinto presos na garganta
Uns gritos tão ancestrais
Que se a dor não fosse tanta
Eu é que dormia mais
Cubro a alma a pano cru
Eu que fui feita de seda
Mas desde que existes tu
Abraçou-me a labareda
Que faz do teu corpo nu
O abismo, a dor, a queda
Visto a vida do avesso
E o teu canto fica mudo
Mas isto é só o começo
Do amor de que me acudo
Porque sei que não tem preço
E que o teu amor é tudo!