Às vezes imagino você
Em outro lugar
Longe de todo esse mundo
Que nos fez reféns
Eu desço pra comprar o café
Enquanto ainda é escuro
O asfalto molhado do frio
Única lembrança de casa
O que for preciso eu dou a ti
Pra me acabar
Pode até ser um pouquinho de mim
Se você deixar que eu fique o mesmo pouco
Em meio a tormenta uma ode a você
Espero que a tenha
Sei que é só um pouquinho de mim
No meio do que nunca passaram dos poucos
Versos mal rimados da minha cama à tua janela
Um bucolismo urbano que
Gosto de cantar
Enquanto assisto você
As vezes imagino essa sacada
Um kit-net da Sé
Você acende um cigarro
Enquanto o fogo ilumina seu corpo
Sem fazer perguntas sobre o amanhã
Eu me esqueço que existo
Num lapso divino
Sou um só com o ar que respiro
Nos dias em que me esqueço quem sou
Sou quem eu quiser
Da realidade surge a ocupação
Que no fundo pouco nos importa
Talvez eu só seja ingênuo demais
De tão frio que sou
Uma vã tentativa desassociar
Toda pequena dor num claro paradoxo
Da racionalidade ao meu despropósito
Eu vejo em tudo um vazio tão lógico que
Me faz perceber
Eu posso até ser feliz
Se no final nada importa
Pra que ser o que não quero?
Se não preciso de nada
Por que não sorrir com o que me deste?
Na desimportância de tudo
Encontro a plenitude
De uma sacada da Sé
Onde quer que ela esteja