Quando ela estava atravessando a rua
Eu pensei comigo mesmo olhando para a lua
"será que eu lembrei de pegar o meu dinheiro
Que deixei em cima do armarinho do banheiro"
Então aquela moça olhou pra mim
E a lua também olhou pra mim
E o vendedor de cachorro-quente também olhou pra mim
E ninguém pôde entender porra nenhuma
Cartas de baralho despencaram
Da janela do vigésimo terceiro andar
Se espalhando por toda avenida
E por cima do andarilho a mendigar
O motorista do caminhão do lixo
Parou pra pedir informações pra moça de calça lilás
E o policial que pôs um óculos bl no nariz
Estacionou o seu carro bem atrás
...na avenida 30 de fevereiro...
Perguntei ao policial aonde ficava o outro lado da rua
Ele respondeu que ficava do outro lado
Mas perguntei pra alguém de lá aonde ficava
E esse alguém me respondeu que era desse lado
Enquanto eu tentava desvendar esse enigma
Quarenta espantalhos sentavam na calçada
E a chuva forte que caía para cima
Não molhou os curiosos que espiavam da sacada
E nem os caranguejos cegos
Enxergaram o que estava acontecendo
Mas quando me deparei com eles
Senti um calor gelado olhos quadrados
e o pescoço estremecendo
A prostituta que ainda não perdera a virgindade
Me parou pra pedir se eu tinha algum cigarro
Eu respondi que não fumava
Mas uma velha amiga ontem
esqueceu um maço dentro do meu carro
...na avenida 30 de fevereiro...
O sol que brilhava à meia-noite
Dava mais vida aos jardins de cimento
E a poesia das vitrines das funerárias
Mostrava a vida como ao fim do seu momento
No céu as pedras voadoras de são petresburgo
Chamavam olhares para cima
Mas ninguém olhou
Todos queriam ver a lula gigante que estava sentada na esquina
Fungos coloridos borbulhavam
Nos bancos de basalto feitos de madeira
Enquanto os bêbados quebravam as garrafas nas paredes
Em tardes nubladas de segunda feira
E assim durante os nove dias da semana
Acontecem sempre as mesmas coisas que nunca se repetem
São como espelhos colocados face à face
E que nada refletem...
...na avenida 30 de fevereiro...