OITO DE MARÇO
Arthur de Faria
Aperto tua mão e - horas depois - inda sinto na minha o teu cheiro.
Aperto tua mão e - horas depois - o teu cheiro.
Que coisa tátil é essa que me remete e tantos gostos e graças?
Que ritual herege teu tato que traz de volta a viva paixão enterrada?
Aperto tua mão e - horas depois - ainda sinto em vão teu miasma.
Aperto tua mão e - horas depois - teu miasma.
Resta o vago mostro redesperto, resta a transparente medusa de esperas.
Minhas cem mil cabeças expectam por ti,
Meus desejos-hidra crescem de volta dos jazidos pescoços inertes.
Para reterem-te no teu cheiro.
Apertei a tua mão e eras tu, ali. Olorosa oferenda.
Apertei a tua mão e eras tu, ali. Oferenda.
Apertei tua mão e eras de novo olhos e boca e peitos e pernas e sexo.
Dentes e língua.
Tua mais profunda pele.
Apertei a tua mão e, nela, todos os cheiros do desejo estavam.
Apertei a tua mão e, nela, todos os cheiros estavam.
Apertei a tua mão e, de novo, te quis.
(Dona Chica dimirou-se de que houvesse uma paixão tão grande assim...)