Aindo os pingos do sereno permanecem
Entrelaçados com o reinado do capim
Ainda paira no sossego da manhã
O doce cheiro que vem da flor do alecrim
Ainda bem a lua nem se apagou
Pra ir dormir no berço deste azul sem fim
Nem bem o sol rompeu a sombra do infinito
Já canta o carro da saudade para mim
E lá vem ele só
No vermelhão do pó
Num canto triste
Do chumaço e do cocão
Carro de boi que vem
Na estrada azul do além
Vem no compasso
De saudade e solidão
É o que vejo me espelhando no passado
Do emaranhado da lembrança torturar
Um velho carro a gemer sobre a campina
No passo lento da boiada a lhe arrastar
Em cada folha que goteja o frio orvalho
Em cada flor que o sol ansioso vem beijar
Tudo se torna uma carga de saudade
Pro velho carro do meu peito carregar
E lá vem ele só
No vermelhão do pó
Num canto triste
Do chumaço e do cocão
Carro de boi que vem
Na estrada azul do além
Vem no compasso
De saudade e solidão
Hoje seu canto é uma escrita desbotada
No livro gasto da poesia do sertão
Foi se apagando aos poucos sua melodia
Sob o barulho do motor do caminhão
Sua madeira foi ficando apodrecida
E seu carreiro sem emprego e sem patrão
E os verdes campos hoje estão emudecidos
Sem o seu carro, sem a rima e sem canção
E lá vem ele só
No vermelhão do pó
Num canto triste
Do chumaço e do cocão
Carro de boi que vem
Na estrada azul do além
Vem no compasso
De saudade e solidão
Carro de boi que vem
Na estrada azul do além
Vem no compasso
De saudade e solidão