Deito em baixo da figueira grande
Pra cesta diária que virou rotina
Vejo-me montado no cavalo mouro
Nas lides campeiras que ainda me fascina
Ouço lá no fundo o grito da peonada
Encerrando a tropa para a marcação
E o latir dos cães ainda é tão recente
São peças que a mente prega no peão
Os meus pensamentos já ficaram ausentes
Não sei por que a gente teima em recordar
O capão de mato a estrada das tropas
Meu peito sufoca, mas torno a lembrar
Choro de saudade do tempo antigo
É como um castigo a me machucar
Da gaita chorando na roda de amigos
Do mate de estribo quando ia viajar
Manadas de éguas e pontas de gado
Baguais corcoveando perto do capão
Eu firme no lombo a laçar campo afora
Cutucando a espora de rédeas na mão
O moirão de angico segue imponente
Na porteira grande lá do casarão
Eu fecho os olhos e brota em minha mente
O mouro escarceando e só imaginação
Puxo o ar com força embaixo da sombra
Desta que nasceu e cresceu junto a mim
Hoje ainda é viçosa e eu já cansado
Espero calado o dia chegar o fim
Composição: Ayrthon Nenê Caetano