A casa da frente
está sempre cheia de gente
pelas janelas entreabertas
escapam sempre sons de festa
e de copos a chocar
talheres a tilintar
Da casa da frente
irrompem risos de repente
como um remexer de latas
pela rua a chocalhar
Dos automóveis
desembarcam moças
pernas esguias
ágeis como corças
E cavalheiros
cuja distinção
provoca facilmente
alguma comoção
A casa da frente
acolhe regularmente
mascarados de Arlequim
de Cupido e Mandarim
e um que leva uma Guitarra
com sua forma bizarra
A casa da frente
ela própria é insolente
entre casas de formigas
é a casa da cigarra
Já pendurei
cortinas com rendinhas
para espreitar melhor
por entre as linhas
E vou jurar
que que em plena escuridão
se ouve uma mulher gritar
ou suspirar?
Já decidi
que deste lado daqui
vamos ter muita alegria
amigos em romaria
e as luzes sempre acesas
sem ligar nada a despesas
E eu que até
tenho ambições de artista
vou comprar um xaile negro
e fingir que sou fadista