"Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!... "¹
Não agüento mais, não agüento mais [8x]
O país continua uma tristeza
Minha vida é uma dureza
Acordo de manhã num tremendo sufoco
pra trabalhar, o meu salário é pouco
Assim... eu fico louco
Assim... eu fico louco
Eu fico muito louco!
Não agüento mais, não agüento mais [8x]
O país continua na mesma
Os políticos, um baleza
A minha casa é um quartinho
E o deles, um "mensalão"
O meu carro é um carrinho
E o deles, um avião... que avião!
Não agüento mais, não agüento mais [8x]
"O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabe no poema a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
porque o poema, senhores,
está fechado
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira."²
Não há vagas!
Não há vagas!
Não há vagas!
Não agüento mais, não agüento mais [15x]
Não agüento mais, não agüento...
¹- Navio Negreiro, de Castro Alves
²- Não há vagas, de Ferreira Gullar (com alterações)