William, essa foi a carta que eu escrevi
Como tem andado as coisas por aí?
Aqui está difícil, é, não vou mentir
E já me vê aquela passagem
Pra outro plano se possível
Já deixei a mala pronta pra viagem
Parece miragem, mas é verdade
Notícias dizem que o País está em calamidade
Falta humanidade, respeito, entramos em desespero
Vários sofrendo com o desemprego
Agata com 8 anos morta por um tiro
E até agora não entendo o motivo
de tanta maldade, há muito sofrimento
Estamos tentando fazer com que nos ouçam
há muito tempo
E é como pedir muito, querer paz pro meu povo
sem que seja através de luto
Cansada de limpar sujeira de imundo
Só descansamos quando estamos dentro de um túmulo
Pensando se terei coragem de ter filho nesse mundo
Luto pra que possa melhorar
Quem sabe um dia ao invés do revolver
Usaremos a música pra curar
Educação já é pouca e ainda querem nos tirar
E nosso ato de confronto é estudar
Nossa cor não vai impedir que a gente flua
Mas a amazônia já está perdendo a sua
Já está perdendo a sua, cor
E quando pessoas que se amavam se tornam estranhos
Quando não sabe o que fazer com os próprios planos
Quando ta prestes a abandonar um sonho
5 anos e não sei nem a metade sobre o ser humano
Aqui socialite esbanja a grana que não fez
E eu só querendo pagar as contas do mês
Não quero ser um fardo pra ninguém
Mas só eu sei o que eu carrego também
E se eu não conseguir externar tudo o que penso
Se toda dor virar letra o que é bem propenso
Caos interno no mundo moderno, depressão a vista
E dizem que é frescura, sério? Analisa
E zé povin que julga com idéia rasa
Como diz o Djonga "ninguém sabe o que ta pegando lá em casa"
Ninguém viu as noites acordadas que passei
Ninguém sabe as propostas que já recusei
E se eu pudesse voltar a ser criança?
Livre de todo ódio e ganancia
De todo preconceito, toda guerra
Jogando bola, descalços nas ruas de terra
E se encerra o final de semana no parque
A vida adulta, nem sempre é a melhor parte
Existir da muito trabalho tio
Por isso escolhi dar trabalho pra esse mundo vazio