Céu escurece faz o dia virar noite
E bota logo a mulecada pra correr
Recolhe a roupa do varau lá do terreiro
Pega logo, vai ligeiro, é certo que vai chover
Um pingo d'água respingou na minha cara
Tô tremendo feito vara com medo não sei de quê
É que o relâmpago no céu dá outro corte
E me anuncia a morte, pedaço que vai cair
E o estrondo do trovão parece um rombo
Mãe, acalenta meu ombro, que eu não sei o que vai ser
Êta tindolelê! ô lelê!
Lá na chapada marruá já deu o berro
E a passarada se escondeu n'algum lugar
Joga lá fora a mão-de-pilão que o vento
Vai embora num momento, deixa a dindinha rezar
Chegou a noite escura que nem um breu
E o sapo lá no rio diz que o tempo vai mudar
Uma pingueira molhou toda minha cama
"Fica quieto, não reclama, dia novo vai chegar"
E a enchente botou peixe no Jequi
Roncador e lambari tá cheio no manzuá
Êta dia! Ô lelê!
Dia amanhece, Sol desponta lá no morro
Secar o banho que a natureza levou
A manga verde, plantação matou a sede
Mas pobre do pé-de-cedro com o vento não aguentou
Rolinha voa, senta lá no taipoca
Mangagá anuncia volta, inda mais com beija-flor
Ó lá Isnaldo com o cachorro do lado
Vai matar preá no brejo, frango d'água e socó
Pegou no quebra cainana e uma seteba
De uma cobra bate-cabo que o coitado se assustou
Ê raiou!
Dona Maria reza terço hoje a noite
Em homenagem a Maçon Sebastião
Vai ter biscoite, batuque e muita folia
Namorar a noite inteirinha sem chamar a atenção
O véio Virgínio, rezador, contou um caso
Bem na era do atraso com a seca no sertão
E que termina de jibóia e carabina
E um tal de catirina embolado na canção
E profecia que a nossa alegria
Tá de bem em companhia com as raízes desse chão
Êta trem bão
Oh lelê tindolelê
Deixa o tempo correr
Oh lalá tindolalá
Deixa folia passar