Eu me aproprio de você
obra minha, distante, inconclusiva
um work in progress dúbio
uma paixão que é fugidia
deliro em ti como a tela em branco
e ensaio um transe sampelado de Pollock
me agarro às tuas ancas num desespero de Guernica
E improviso uma soul music
"Don’t make me stop now, Don’t make me stop now"
eu grito em aberturas das tuas exposições
é o som ambiente que se escuta nas vernissages do teu andar
Eu invado a tua órbita
como um satélite desavisado enviado a uma celeste rinha
desvendar espaços teus é minha astrofísica sina
e tenho estrelas displicentes
os planetas nus como vigias
desvio-me dos cometas rotos – esses que em verdade são as vítimas –
e os Brasinhas do Espaço atravessam a linha de visão.
é o momento mais perigoso da viagem
febril, vislumbro desenhos animados da infância
alucino gravitando ao teu redor
Você é a idade da razão
em direção ao teu colo que pretendo manso
sigo pé ante pé, nada é em vão
me demoro, perco tempo, a juvenilia
aceito o conselho, envelheço
de cabelos nevoados, alma curtida em tonéis de estrebaria
quero ser teu mais antigo amante
que visita lembranças selvagens – daquelas que agitam o sono
e perturbam sobretudo ao lado das novas companhias
Quisera eu ser o resumo das intenções tardias
o contato com o teu eterno, um misticismo ancestral de quinta categoria,
charlatanismo permitido e nós, a dupla de xamãs preferida
charlatanismo permitido e eu, teu guia