Já faz um ano que eu estou desempregado.
Faz mais de ano que não sei o que é tostão.
Se tenho grana, e a barriga está roncando
sonho almoço, jantarado e vou tomar café com pão.
A minha roupa já tudo tudo um farrapo.
O meu sapato sem a sola, o pé no chão.
Sofro da tosse, da bronquite, resfriado
os dentes tudo cariado, só falta furá o pulmão.
Pra piorar perdi o carinho de Maria
que me esquentava em noite fria de luar.
Sem cafuné, e sem mulher... Nesse sufuco
vou acabar ficando louco, numa de desesperar.
Se eu me livrar um pouco mais dessa desgraça
já que um trabalho tá difícil de encontrar
vou me encostar uns tempo pela providência,
inventar uma doença até tudo melhorar.
Dei tanto duro pra viver do meu trabalho
tanta riqueza que ajudei a construir.
Não tenho nada.
Vou deixar de ser otário
dando o "conto do vigário".
Vou viver de ser faquir.