De volta ao mundo fora da cadeia
Cinco anos se passaram, muitas coisas mudaram
Não sei se tô preparado ou se vai valer à pena
Nínguém na sala de espera, é...
Talves um dia eu acorde, a minha ideia é velha
Quero rever meus amigos, esquecer os tiros
E agradecer ao grande Deus por ainda estar vivo
Se me lamento, nem mesmo sei, aonde está a lei
Procurei em cada canto onde já andei
Cadê meu carro, maço de cigarro
Minha Dona que eu amava véi, tá ligado
Eu tô de volta, abram as portas
Muita coisa mudou, criaram mais escolas
Quando morava aqui não era bem assim
A molecada teve sorte, se lembra de mim?
A minha casa é logo ali e só mudou de cor
Rapaziada em frente, seja lá quem for
Vou chegar, vou cumprimentar
Tô doido pra trocar os pano, meu irmão vamo lá
Vamo dar um role, só pra ver de qual é
Aproveita também e vê se paga um Dreher
Minha mãe tá feliz, voltei e tô aqui
Não quero mais aprontar, é melhor assim
Dos bandidos chegados, metade já morreram
Só restou as lembranças, ódio e o medo
Não sei se sou o mesmo, opinião eu aceito
Minha importante, valor trago no peito
Rola um a cerva, me empresta o fogo
Vou ligar um careta véi... É, sou eu de novo
Refrão
Não vou morrer... Se é que me entende { 4X }
Vou me lembrando cada rosto na memória
E as Dona Preza continua a mesma história
Engravidando, se drogando, dando o rabo
Algumas já se casaram véi, tá ligado
Logo perto daqui fica o Quarentão
Muito fulano já morreu com tiro de Oitão
Na cabeça, no peito, às vezes nas costas
Cemitério maldito, ali ainda é foda
Deixa eu chegar, não quero é me atrasar
São sete e meia e minha mãe vai se preocupar
Não te falei, já tá na minha cola
Deixa que a cerva eu pago, vamo sair fora
Vou escutar um sapo, curtir só. Mãe demora...
Meu velho quarto pôster na parede
Falta reboco, sou pobre, se é que me entende
A noite chega manto negro da escuridão
Muito pipoco vai rolar não se assuste irmão
Cadê o Rei? Jamaika até gravou um disco
Amanhã visitarei os meus velhos amigos
Mostrar o tanto que eu mudei
Me dediquei. Leitura na cadeia
Só eu mesmo sei quantos livros já li
Ainda não me esqueci: Malcon X,
Marthin Luther King e o meu herói Zumbi
Sei meu valor, não vou me afogar no crime
Não quero mais saber de entrar no ringue
Refrão
Não vou morrer... Se é que me entende { 4X }
Fumei muito lá dentro, nada pra fazer
Puxar uns ferro todo dia era nosso lazer
Divertimento 7 ou 11
Joga os dado, ponho fé, perdi cigarros de monte
Mas aprendi, a vida é foda
Muita ideia de rocha, rapaziada na roda
Walkman rádio Fulera
Lembranças do meu barraco rolando as Paulera
Aqui fora legal, nego pagando pau
Pedindo estia, deixa brecha, bebi a beça
Muito otário babando ovo
Se eu derrubo mais um, volto pra lá de novo
Tô na seca a quase 5 anos
Irmãos de rocha tenho sim
Elaboraram o plano, passam em casa
A surpresa, meu presente
No Puteiro a gente vira a noite, tá ciente
Tá na hora de chegar
Não vou me demorá
Faz o pano, queima o chão
Não posso me atrasar
Oito horas na Igreja, pá-pá
É, pro meu Santo agora eu vou rezar
Em cada rua me vem uma lembrança
Muita troca de tiro, mortes foram tantas
Minha perna é prova disso
Olha uma bala aqui
Ganhei pipoco defendendo meus irmãos da Cei
Sangrei pra porra, achei que ia até morrer
Mas já passou, já era então o que fazer?
Ali estão os meus velhos camaradas
Um velho vício, quatro bancos dominó na roda
Uma boa sombra, Dreher a ser consumido
Recepção calorosa, não estão esquecidos
Muitas perguntas e muita animação
Ao saber que eu tô legal, pode crer irão
Só meio claro pela falta de Sol
Desce uma cerva, preferência rola uma Skol
Não vou me embriagar, só vou ficar ligado
Hoje eu tenho consciência muito bem do que faço
Não me recrimine pelo que eu já fiz
Matei! Paguei! Justiça diz
O que faria com alguém que matou seu pai
Você daria o troco
Então eu quero é mais
Meus companheiros me desculpem, mas eu vou chegar
Quero ver o meu filho e um trampo procurar
Quero dar um exemplo, não importa o tempo
Nunca é tarde pra se melhorar
No momento, quero que todos vocês
Sigam bem em Paz
Malandragem nunca mais
Refrão
Não vou morrer... se é que me entende { 4X }