Por quê vocês?
Sempre vocês
Meninos de curvas retas
E olhares perdidos
Por quê com esse pecado mascarado
Essa displicência no agir
Esse mistério?
¬
Por que vocês?
Estão sempre a me arruinar?
Me roubando o riso, o viço, a juventude
Finos, bem devagar
Como quem arranca sem maldade
As pétalas de uma flor
Por demais aberta
Seu jogo a todo tempo faz desviar
De qualquer caminho sensato
De qualquer propósito maior
Por quê estão sempre a me fazer rastejar?
Por cada pedaço de seus corpos
Pelas estranhas de um imaginário
Pela ilusão de nossa plenitude?
Quanto mais certa, ereta
Quanto mais reta a curva que me traz
Me leva pro céu
E desço pro inferno
Assim que se vai
Nunca terei um minuto de paz
Minh’alma está entregue à vaguitude
Juízo já não encontro mais
Não sou de nada
Eterna escrava
– ingratos! –
do seu bel-prazer