Mestiço matuto, sou bicho do mato
Conheço o bom prato sentindo o cheiro
Se faço picada abrindo caminhos
Eu sigo meu mapa andando em trieiros
Sei quando o sol nasce quando a lua vai
A sombra do imgá é a minha cartola
Vejo nuvens brancas de bois no banhado
E o verde mergulha no espelho alagado
Que o verão espalha e depois vai embora
Não gosto de ver fumegando a queimada
Tirando a morada de quem tem direito
São aves que perdem seus ninhos nos galhos
E a onça é churrasco de pé no braseiro
Tatus, siriemas, macacos e araras
Antas, capivaras e até bacurau
Pinhé, beija ? flor, maritaca e bandeira
Coruja, anú, curiando e vespeira
São reus inocentes nas mãos desse animal
Sou bicho mato sou só criatura
Não sei se a cultura me fez ser diferente
Não sei se as letras mudaram meu sentido
Se fiquei mais burro ou um sábio indecente
Ás vezes eu acho palavras bonitas
Mas nada explicam se falam de guerra
Não sei se o mais forte é o mais fraco que lê
Ou forte é o fraco que finge não vê
Que a faca da gana estilha a terra
Ninguém imagina que um terremoto
É o grito da terra gemendo de dor
Das bombas que caem plantando o medo
Da fumaça que sobe em forma de flor
Ninguém imagina que o coração
É a chave que abre a porta do céu
E as águas revoltas desse tssuname
É só uma lágrima dos olhos de Deus