Tamo cansado dos róla
Dessas batida no lombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
Nós tá cansado dos róla
Bala perdida, eu quem tombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
Onde mães se despedem dos filhos
Temendo que eles possam não voltar
Muitos driblam o beck e o crack
Mas sabem o que rola se os homi parar
Em surdina, na viela, na esquina
Nos beco, escadão, nos campinho, se pá
É o mesmo jogo de sempre
O juiz tem um lado e ele vai apitar
O diabo no céu da tua boca
Você não verá saindo da minha
Pastores e bispos nos querem peão
E não descendentes de reis e rainhas
Nesse tabuleiro de azar
Em que é vitória chegar até os trinta
Imenso xadrez preto e branco
Em que a morte dispara vestida de cinza
Tamo cansado dos róla
Dessas batida no lombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
Nós tá cansado dos róla
Bala perdida, eu quem tombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
Com a cultura forjada no corpo
Enfrentamos aqueles que querem apagá-la
Partilhamos do que aprendemos
De nossos mais velhos, na escrita e na fala
Derrubando as cercas destes privilégios
Pois a Casa Grande só nos quer Senzala
E na tela alguém justifica
Nossos meninos crivados de bala
Pois no beco, um teco, um tombo
O muleke caído aind'é criança
O silêncio se impõe, é o medo
Da corporação que humilha e espanca
E o único som de panela
Vem da mãe que espera ariando lembranças
Neste enredo de escola de samba
Em que, da bateria, a rainha é branca
Tamo cansado dos róla
Dessas batida no lombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
Nós tá cansado dos róla
Bala perdida, eu quem tombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
E a regra que prega e se emprega
Propõe, pra dois p (r) esos, duas medidas
Como praga, estraga e destrata
Nos desapropria de nossas batidas
E proclamam os meritocratas
Em prol de tuas castas, que são contra as cotas
E não tratam do branqueamento
Propício chicote a lanhar nossas costas
E a tropa que encrespa e que trota
Nos tira a terra, os barraco, mó treta
E no morro é no murro, no escuro
Tiro de fuzil, Hk, escopeta
Trancafiam o dito traficante
Forjando flagrante na maior mutreta
E no pátio, em presídio precário
Preste atenção se a pele não é preta
Tamo cansado dos róla
Dessas batida no lombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!
Nós tá cansado dos róla
Bala perdida, eu quem tombo
Favela 'ind'é senzala
Vamos fazê-la quilombo!