Eu sei que vivo escondido em algum lugar
Mas é você que nunca sei se está, nem onde está
Sou remetente invisível e meio incapaz
Pr’esse teatro que nem ligo mais, e tanto faz
Pra que seguir as horas se elas nunca param?
Por que insistes tanto em demorar, demorar
Já me disseram que as almas gêmeas se ouvem
Mas nunca deram chances pra falar, e sem falar
Eu perco tudo o que posso ser, o que posso ter,
Destinatário improvável dentro do meu ser
Se me ouvires quando leres os teus versos,
Corpos submersos em água de um pobre rio sem direção
É contradição, perfeita imperfeição
Quando eu amar já não será com palavras
Já não será com promessas
Já não será como um quebra-cabeça
Em que se finge ter a última peça
Já não iremos criar nomes, criar cores
Disfarçar as dores e fingir-se em luz
É preciso lembrar onde estamos
Para que não sejamos apenas
Corpos nus e frases decoradas
Que profiram em vão palavras sem ter noção
Meia-luz e roupas decotadas
Que pratiquem então o medo da solidão