visto aquele velho paletó empoeirado
sobre a minha mesa eu vejo o cinzeiro lotado
a fumaça do charuto, o ambiente perfumado
uma taça, meio vinho e um roteiro inacabado
vim pra terminar o que eu havia começado
o futuro a Deus pertence mas o meu já tá traçado
sei que o fardo é pesado como o nome da família
sinto-me honrado em seguir na dinastia
meu destino, uma vida, uma chance, mais um dia
os retratos na parede me prendem à nostalgia
ponteiros do relógio que hoje já não se movem
parados no tempo como histórias que comovem
como o tempo em que os homens eram realmente homens
e a honra de um homem valia mais que seu nome
lealdade e humildade, pra sempre ser respeitado
respeitos de verdade, pra sempre ser relembrado
respeito às lembranças, a meu sangue, a meu passado
honro o nome dos irmãos cujo sangue foi derramado
jamais esquecerei, rancor meu combustível
o inferno em meus olhos vermelhos já é visível
queima dentro do meu peito o ódio irredutível
vejo de frente pro espelho a raiva em último nível
sinto a garganta seca e as batidas do coração
minha sede é de vingança, vingança com as próprias mãos
ver o medo em seus olhos implorando por perdão
inimigo tenho vários, amigo conto nas mãos
todos por um, apenas uma proposta
Judas me entrega e me vende por qualquer bosta
se eu não ficar ligeiro já sabe qual a resposta
Brutus me apunhala e enfia a faca nas minhas costas
olho pela janela e vejo a chuva no jardim
crianças correndo entre as mudas de jasmim
e o silêncio fala alto, eu não escuto nem a mim
vejo tudo em preto e branco, pressinto o início do fim
sinto que um anjo me carrega em seus braços
tô indo pro céu porque o inferno já tá lotado
morri como homem, sei que isso não é pecado
antes morrer em pé do que viver ajoelhado
"um brinde a todos que se foram
com a certeza de que é melhor morrer em pé
do que viver ajoelhado"