Os miseráveis, os rotos, são as flores dos esgotos
São espectros implacáveis, os rotos, os miseráveis
São prantos negros de furnas, caladas, mudas, soturnas
As sombras das sombras mortas, cegos, a tatear nas portas
Procurando o céu aflitos, e varando o céu de gritos
Faróis à noite apagados, por ventos desesperados
Inúteis, cansados braços, pedindo amor aos espaços
Figuras que o Santo Ofício condena a feroz suplício
Ó pobres, soluços feitos dos pecados imperfeitos!
Arrancadas amarguras, do fundo das sepulturas!
Bandeiras, rotas, sem nome, das barricadas da fome!
Bandeiras estraçalhadas, das sangrentas barricadas!
Ele já marcha crescendo, o vosso bando tremendo
Ele marcha por colinas, por montes e por Campinas
Nas areias e nas serras, em hostes como as de guerras
Cerradas legiões estranhas, a subir e descer montanhas
Ó pobres de ocultas chagas
Lá das mais longínquas plagas
Parece que em vós há sonho
E o vosso bando é risonho
Que através das rotas vestes
Trazeis delícias celestes
Que vossas bocas de um vinho
Prelibam todo o carinho
Que vossas almas tremosas
Vêm cheias de odor das rosas
Que essas flageladas almas
Reverdecem como palmas
Que por entre os estertores
Sois uns belos sonhadores