O sol nasce de frente pro rancho
A florada do ipê no terreiro
Solta flores douradas no ar
Canta triste o jaó tão matreiro
O meu peito velho chorador
Tem saudade dos tempos primeiros
Quando eu vivia carreando
Era estradeiro de muitas pousadas
Vida apaixonada vem dos boiadeiros
Como o rio que percorre a invernada
Suas águas regando a saudade
Foi assim que correu meu galope
Arribada deixei a vaidade
Os amores de um boiadeiro
Não amarra um peão de verdade
Amei todas como um beija-flor
Em toda cidade tive uma paixão
Parti coração, adeus mocidade
A famosa espora de prata
O meu laço de couro trançado
Se perderam com a minha tropa
Esquecida em currais do passado
Na estrada deixei meus repentes
Os amigos ficaram de lado
Eu voei como faz a perdiz
Em campo cerrado, asas tão ligeiras
Mas nas ribanceiras tem chão calejado
Se essa minha viola falasse
Nessas cordas tão bem afinadas
Certamente iria dizer
Boiadeiro morre com a boiada
O que resta é uma grande saudade
De velhice ficou disfarçada
É a balança do tempo cruel
De vida pesada não erra seu peso
Pois agora mesmo eu pego outra estrada
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)