Aqui dentro sou tão igual...
E todos conseguem ser tão diferentes de mim.
Mas afinal, não é assim que as coisas são lá fora?
(As vozes insistem em me culpar.
As mesmas vozes que me apontavam o caminho da estrada.
As mesmas vozes que me apontam o dedo para
zombar do meu fracasso.
Cubro meus ouvidos mesmo sabendo que
não posso me proteger de mim mesmo).
Se ao menos eu pudesse ficar alerta...
Por onde andei? Quem me chama? Onde estou?
Quando foi a última vez que comi ou disse alguma palavra?
Me pergunto se as coisas teriam sido diferentes se eu tivesse lhe
mutilado, dando vazão à minha raiva. Mas será??
Estas fendas deveriam estar em teu corpo e não no meu.
Mas será?!
Uma vez livre tudo será do meu jeito. Mas será!!
Fugir não vai ser minha melhor opção.
No meu lugar de conversa, temos um refluxo
de ódio e palavras não ditas.
Finjo estar pior para não atrair atenção e poder ter paz.
Os dias demoram a passar,
mas correm tanto que não consigo acompanhar.
(As horas não valem nada. Sei que é dia quando me avisam.
Sei que é tarde quandome visitam.
E a noite, quando chega, já me encontra quase inconsciente.
Parece tão irreal. Me chamam de uma maneira
que eu quase não atenderia mais.
Como ele reagiria aqui dentro?
Como você reagiria?).
Onde errei? Onde erramos? Onde estás?
Uma morte indolor e plácida não seria justa para você.
Não vou ser seu mártir. Se um dia lhe chamei de má,
tenha certeza que me tornei maniqueísta por opção.
A incompartibilidade de gênios não foi capaz
de preservar nosso tratado de não agressão.
A sujeira que corrompe. Ofusca o brilho.
Glorifica a dor.
As vozes nunca estão satisfeitas.
por Beatriz Felício =P