Meu pai
Acho que a sua criatura
Saiu da escuridão segura
Pra luz de alguma experiência errada
Mas nada
Cobri minha pele costurada
E a alma ainda alinhavada
E fui andar pela cidade
A pura verdade
É que nasci com esse tamanho
De algum sopro de vida estranho
Que temporal, que ventania
Que raios, que dia
Meu criador enraivecido
Olhou pro seu recém-nascido
E acho que fugiu de medo
Meu pai
Não me abandone agora
Foi o que pensei na hora
Mas não pensei com palavras
Porque as palavras
Outra espécie de vazio
Não me vestiam
Quando eu me sentia frio
Meu pai
Aprendendo e apanhando
O tempo inteiro buscando
Compreender sua intenção
Eu me danei
Feito um bicho na cidade
Minha vontade
Soube me dar a mão
O fogo
Das minhas poucas descobertas
Na areia das mil coisas certas
Se acende ainda em mil perguntas
Fagulhas que juntas
Venha a ser a minha alma infame
Talvez meu criador me ame
Talvez meu criador me ame
Talvez