Véu da Noite
Fator do E.G. e
Flora Matos
"Cai o véu, noite vem...
Lua cheia que não acalanta ninguém."
[Flora Matos]
Na matina eu acordei, fui na janela, olhei
Tava tudo normal, movimentado e sem lei
Foi quando olhei pro tênis, resolvi calçar, calcei
Desci o morro atrás de algo que ainda não sei
Fone no ouvido, ouço um beat bem produzido
O meu rádio toca, quem me chama é um amigo
Dizendo "Hoje tem free, Comando Selva tá vivo
te encontro no Arará, câmbio, desligo"
Desço as escadas, escadaria não acaba
Lá em BBG é nóis, me adota minha quebrada
Todo mundo acordado, mais tarde vai tá "moiado"
Hoje eu vou lá pro sanduba me rodear de chegado
Paro no ponto, aguardo pelo baú
Sentido Avenida Brasil, saindo da Zona Sul
Noite escura se abriu, eu to voltando pa tu
Escuto vários "psiu", mas mando...
(Xiiii), não vale a pena dizer
palavra feia se me dirijo a você
Caderno na mochila, rima na ponta da língua
Pra não ter que pegar fila, desenrolo e disciplina
Tudo em cima, cheia de matéria-prima
Sou gente fina, mas de acordo com o clima
Tudo muda quando ele que me intima
Quando quer me apreciar e fazer noite de rima
Cai o véu...
[Fator]
E é desse jeito que eu encontro verso, de pensamento disperso
Num submundo submerso, num clima sombrio, complexo de pouco nexo
De muito sexo, de muito ação e pouca sorte
Copos de ousadia, fluídos de vida e morte
Ouço sirene que espalha o medo, que esconde segredo no manto denso e intenso da noite, procuro senso
Penso "Momento tenso", entendo e lamento e penso
Não é só, muito mais pra mostrar, ela tem
Imparcial, não acalanta ninguém
Mãe da sedução, que atrai pela emoção
Pela vingança, pelo dinheiro e pela religião
Pela loucura, pelo ciúme, pela obsessão
E novos contos virão, de casos sem solução
Inspiração pra poesia e canção, a noite de São Paulo oferece um milhão
De rimas e prosa, nas festas, nas tretas
nas mina gostosa, na cena suspeita
No olhar que assedia, na louca sintonia
Na energia que desaparece quando vem o dia
Pupilas dilatam, parceiros se matam
Carinhos maltratam, palavras relatam
Parábolas dessa cidade
Inspirariam as Fábolas de Sherazade
Enquanto isso eu fico tipo a Lua Cheia, lá do céu, só ganhando
Uma pá de cara novo de chapéu, se achando
Que tipo entra e sai, que pá, tem proceder
Só que eu sei que muita coisa que eu vejo, ninguém vê
Mistérios que a noite pra poucos revela
Mas quanto mais me cativa, mais esperto eu fico na dela
Liguei a mancha no tom, vermelho quase marrom
Na camisa do maluco, não sei se é sangue ou batom
Mas é a deixa pra mim, um sinal, na moral
Só quem tem o dom sente o momento crucial
Ligeiro eu to, demorô, pra mim já deu
Falou, falou, vou que vou pro mundo de Morfeu
[Flora Matos]
Em oposição ao Sol, Lua Cheia
Disco prateado, luz refletida clareia
Nasce às 6, se põe às 6, a toda volta rodeira
Influi na nossa vida, somos grãozinhos de areia
Raios incidem sobre o nosso satélite
E é só nessa lua que o eclipse acontece
Não me deixa dormir, que a vontade só cresce
Tema de tantas canções e por quê não de um rap?
Um fala, outro escura, uma pára, outro ocupa
A mãe se preocupa, um chora, outro luta
Pra si a vela assusta, e não pede desculpa
É a lua que escuta o chorar de uma puta
Alegria, prazer, sofrimento e poder
A noite tem de tudo, tem paz e tem trelelê
Ela é linda de ver e influi em você
Caiu o véu e vai saber o que pode acontecer
Momento tu não cone, artista se emociona
A BR ilumina quando não tem carona
Energia que brilha, rap baixinho clama
A luz do Sol pra Lua, da Lua pro olho da dona
Ele me telefona, diz que eu to bonitona
Me chama de negona, o brilho vem a tona
Vida redireciona, até que alguém me toma
Nos braços de quem até hoje me diz que me ama
Mas não fica na manha, várias meninas gama
Lá em Copacabana, lua cheia na zona
Ee se envergonha, vai pro bar cai na cama
Eu caio nos braços da noite, na noite insana
Aqui não acalanta, sou Flora e sou planta
Sou projeto de paz para uma guerra santa
E uso minha garganta, não perco as esperanças
KL JAY produz, é nóis que rima e Céu que canta