No grande espelho do tempo
Com minhas vistas cansadas
Eu fico olhando tristonho
Toda a minha caminhada
Eu vejo tudo passando
Numa tela desbotada
É o que me resta somente
Porque sei que logo em frente
Vai terminar minha estrada
Vejo a imagem do meu pai
Lá na varanda sentado
Tocando seu oito baixos
Num fole um pouco furado
Meu avô com sua viola
Caprichando no ponteado
Muitas vezes cochilando
Logo depois acordando
Com a sua viola abraçado
Vejo vovó no alpendre
Com seu sorriso tão belo
Passando com ferro à brasa
O meu terninho amarelo
Vejo mamãe furiosa
Me pegando de chinelo
Toda a minha rebeldia
Ela sempre resolvia
Com a vara de marmelo
A vida é cheia de espelhos
Refletindo sem parar
A gente tem que escolher
Em qual deles se espelhar
Ao chegar ao fim da estrada
Nós temos que encarar
A imagem refletida
No retrovisor da vida
Quando a cortina fechar