E no entanto a minha desgraça, dei-me de cara com sua graça. Ela ocupava todos os cômodos da casa como uma boa visita reconhecida. Se movia em abstrações enquanto meus lábios tremulavam, meus dentes rangiam e minha boca espumava em tom de loucura querendo ir de encontro a sua boca. Teu ser inundava minha casa de presença e o meu coração de ausência. Sentei-me para que descansasse de tanta emoção, da qual fustigasse sem solenidade alguma. Fui-me de encontro breve a saudade em minha memoria que me aguardava de braços aberto, assim do mesmo jeito como sua graça eu recebi naquele dia.
Amor, tenho tanto a lhe dizer
De quanto sofri
Pensando em você
Esta sua presença muito me honra
Deste sorriso que diz
Eu vim pra lhe fazer feliz
Fechei meus pensamentos
Passei por tormentos
Nem queira saber
Mas hoje é só alegria
Pois volto a viver
E sem fantasia
Você está de volta
Em mim tudo se solta
Sem ti tudo chora
Tudo a minha volta, não é igual sem você
Eis que no entanto, entre o sorriso e ao pranto do momento, dei-me um grande espanto a notar minha mente vazia. Assim como um artista sem ter a quem idolatrar, sem a possibilidade de se criar uma obra-prima, ou de até mesmo a de um poeta sem seu lírismo, pus-me a guiar mais a fundo de minha memoria fria. Enquanto a toda essa loucura rondava dentro de mim, ouvia-se lá fora, no quintal, o som das crianças brincando no jardim junto aos cantos dos pássaros. De fato, era uma tarde especial. Por mais que os efeitos de sua graça criavam, eu sabia que era você quem estava ali comigo. Foi então, que em um ato delicado seu, sentia sua leve mão entrelaçando os meus cabelos e me causando um alvoroço de carinhos em minha cabeça.
Querida, estás tão bonita
Tão linda desde quando conheci
Seus olhos iluminam
As ruas de Paris
Mas nada mais me alegra
Desde que chegaste aqui
Teu abraço é um conforto
Da minha confusão
Venha e me de um carinho
Assim como seu sorriso
Enrosque os meus cabelos
Nos dedos de suas mãos
Toca o telefone
Pode ser alguém
Talvez um ser sem nome
Não deixe que ele vem
E subitamente o meu tempo mudou, fazendo assim a alegria dar lugar a tristeza, novamente. Era sua hora de partir. De forma bruta e ríspida, você e sua graça abandonaram a minha casa e coração. Da mesma forma como o vento sopra as folhas mortas do chão, e as leva pelo ar, o vento me trouxe a solidão mais uma vez e me levou a minha paz rumo ao Velho Continente. A protetora do iluminismo teve de levar seu sorriso e graça de volta a França, deixando em mim um apagão de felicidade. A agonia corroía meu rosto amargo com prazer. Mas, se não fosse aquele instante breve de sua graça, que pintou meus muros de casa, agora estaria louco. E é a tristeza em não te ter, Patrícia, que de você agora em mim fica. Patrícia... não chorarei tua ausência, para que essa ausência não seja lembrada em prantos. Mas sim irei sorrir para que sua graça seja perpetuada.