Mamãe preta que me embalou,
Eu bem me lembro de você...
Eu era tão pequenino,
E, para os meus olhos de criança,
Você, na luz fraca do quarto,
Era apenas uma sombra
Na brancura da parede.
Mamãe preta, mamãe preta,
Eu não me esqueço de você...
E a tenho sempre no olhar
Da Saudade, que tudo vê...
Mamãe preta, se eu não dormia,
Sua voz, fanhosa e rouca,
Com brandura me dizia:
— "Drume, drume sinhozinho,
Sinhô parece zumbi
Preta véia tá cansada
E o sinhô não quê drumi"...
E eu custava a dormir...
E você, com paciência,
Ficava sempre a velar...
Ficava sempre a meu lado,
Cantando, num tom magoado,
Cantigas da sua raça,
— Mãe preta que me embalou!