Ó, o vilarejo está vazio
Vejo o mar e me arrepio
Não tenho o que comer
De cinco da tarde já me deito
Sobre um jornal espesso
Em minha casa de palha
Toda noite o mesmo pesadelo
Sempre o mesmo desejo
De isso tudo melhorar
E ainda estava escuro
Quando eu me levantei
E sai para pescar
Sempre com o mesmo vazio
Barriga, vilarejo, coração e até o mar
Deixei a minha viola na janela
Era tudo que eu tinha
Mais a minha canoinha
Para navegar
A vida me ensinou
Desesperadamente o que é sonhar
Mas após a juventude
Essa esperança eu deixei no mar
E o que me sobrou
Foi a solidão
E a realidade de não ter mais nenhuma ilusão
Veio como uma doce paz
Quando senti o vento me acertar
O mar me abraçou e sem nem a lutar
Fiquei a pensar
Você me trouxe aqui
Nada mais justo do que me levar
Você me trouxe aqui
Nada mais justo do que me levar