Rasqueado
Meu velho carro de boi meu grande fiel amigo
O quanto eu te agradeço o tempo que estas comigo
Já quase no fim da vida eu noto no teu cantar
Parece chorar de pena, por ver seu dono chorar.
Meu velho carro de boi o ranger do teu cocão
E um lamento de pena por me ver na solidão
Meu rosto velho e cansado e toda minha amargura
E o preço que me custou dois anéis de formatura.
Meu velho carro de boi não dou por mal empregado
Meus tantos anos de luta e de trabalho pesado
Porque me resta o prazer de contar minha vitória
E elevar os dois filhos no alto degrau da glória.
Só sinto que me esqueceram depois que foram formados
Um doutor de medicina e outro advogado
Se ao menos me visitassem me alegraria demais
Por certo sempre envergonham do caipirismo do pai.
Meu velho carro de boi corrido pelos anos
Tu sabes que sofro agora o mais cruel desengano
Dediquei a vida inteira pela carreira brilhante
Dos filhos que me esqueceram e vivem muito distante.
Se ao menos eu tivesse os filhos perto de mim
Talvez eu não precisasse carrear até o fim –
Mas só silenciaram os estalos dos canzis
No derradeiro suspiro dessa carreiro infeliz.